Luciola
Resenha por Bianca Ramos
Autor: José de Alencar
Editora Ciranda Cultural, 2009
Livro Físico, 160 páginas
Sinopse
“Esta obra fala do processo de transformação de uma mulher, a cortesã da sociedade carioca que se regenera, purificando-se e renascendo para o amor. O romance da bela Lúcia, a mais rica e cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo, um jovem modesto e frágil. De um lado a mulher que, sendo de todos, jurava não prender-se a nenhum homem, de outro o homem em dúvida entre o amor e o preconceito. O autor utiliza este argumento para descrever a atração física entre um homem e uma mulher. A pena moralizadora do escritor busca a idealização espiritual da prostituta que quer se modificar e a alma pura de Paulo cuja amor supera todas as barreiras..”
Resenha
Oi, caleidoscópios! Vocês estão bem? Espero que sim!
Dando continuidade ao nosso “mês dos clássicos”, é claro que não poderia faltar aqui ele... O ícone do romantismo brasileiro: José de Alencar. Autor de obras como O Guarani, Senhora, Iracema, Diva, esse sim é um clássico da literatura brasileira. Quem nunca teve que encarar um destes livros nas aulas? Eu certamente tive (e passei raiva, já adianto).
Trouxemos hoje para vocês o livro “Lucíola”, que é um dos famosos do autor, publicado pela primeira vez em 1862, retrata o Rio de Janeiro do período imperial, com aquele toque romântico (e emocionado) que estamos acostumados. Já advirto que não se trata de uma leitura fácil e como não sou graduada e nem especialista em literatura, vou dar só a minha opinião mesmo, ok?
Começamos o livro com a informação de que o narrador, Paulo, fala com uma senhora, como se estivesse contando à interlocutora parte de sua vida. Trata-se de um romance que se passa no Rio de Janeiro, até então capital do Império e local em que a corte estava, no ano de 1855.
O nosso protagonista, acaba de chegar na cidade e estava em uma procissão quando avistou uma moça que, para ele, aparentava ser uma senhora. No entanto, o amigo que se encontrava com ele no local em que estavam, de nome Sá, o advertiu de que tal mulher era, na verdade, uma cortesã (o que hoje conhecemos por prostituta), sendo que somente então o narrador percebeu que ela estava desacompanhada, o que já era um indicativo de sua profissão.
Estamos falando de Lúcia, a nossa outra protagonista, que é um tanto quanto fora dos padrões, em um primeiro momento. Paulo, quando avista a mulher, tenta se lembrar de onde a conhece... Sendo que após um esforço grande, recorda-se de que no dia em que chegou ao Rio de Janeiro, conheceu a cortesã, pois pegou o leque da moça, que havia caído, e devolveu a ela, deduzindo já neste primeiro contato que a garota não era feliz.
Neste primeiro ponto já temos uma característica do autor: a descrição exagerada dos sentimentos. José de Alencar não poupa palavras ao descrever as cenas e os turbilhões de emoções de Paulo, sendo que isso pode ser cansativo para uns, enquanto que é excelente para outros... No meu caso, eu achei extremamente chato, pois não tenho paciência com personagens emocionados demais!
Paulo, lembrando-se de onde conheceu Lúcia, foi até a casa da garota e ficou todo caído de amores. Ressalta-se que ele fica o tempo todo dizendo que “é amigo” dela, mas mesmo assim, suas ações dizem o contrário, tanto que no segundo encontro, vai para a cama com a mulher, sabendo do que ela faz para viver, e do nada começou a prever que a cortesã iria morrer cedo.
A impressão que dá é que Paulo é um vidente, porque fica prevendo a vida dos outros, do nada. Isso também irrita bastante, porque ele fica julgando os personagens e toma decisões precipitadas, com base em seus próprios julgamentos e de situações hipotéticas, ou seja, nas fanfics que cria na própria cabeça! É nítido que o autor, algumas vezes, queria mostrar sua opinião sobre a vida de Lúcia e fazer um julgamento sobre isso, mas para nós, mocinhas modernas, só dá vontade de entrar dentro da obra (ou voltar no tempo) e estapear o interlocutor, porque o protagonista faz umas observações deveras machistas e arcaicas.
Descobrimos uma faceta de Lúcia interessante, logo no início do livro, porque ela não permite que nenhum homem tenha “direitos” sobre si. Lembrando que na época em que se passa a história e também no ano em que foi lançado, as mulheres eram propriedade de seus amantes, noivos e maridos, eram tratadas como objetos (e até hoje somos assim), então ter em primeira mão uma personagem feminina que não aceita tal situação é inovador, mesmo que isso não dure muito.
Após saber mais sobre a vida de Lúcia e de ter transado com a mulher, tirando suas próprias conclusões, Paulo decide aceitar um convite de Sá, a fim de cear em sua casa. Obviamente que a garota estará no local e não será na sua faceta “inocente e fofa” que mostra as vezes, mas sim como cortesã, banhada na ironia e sarcasmo (do jeito que a gente gosta).
Vocês acham que Paulo, o emocionado, vai saber lidar bem com esse lado da nossa protagonista? Esse jantar tem tudo para dar errado, né? Se quiserem saber mais sobre isso, podem ler a parte de spoilers ou também realizar a leitura do próprio livro.
Se vocês me perguntarem se eu gostei do livro, a resposta será positiva! Achei-o difícil de ler, porque a linguagem não é lá muito acessível e as descrições são gigantes, mas a história em si não é ruim... Claro que Paulo é um protagonista extremamente chato, mas Lúcia é interessante, ainda mais porque possui diversas facetas.
Gostei do final? Não. Mas isso é porque sou uma mulher que vive no século XXI, com outros valores e outra visão de mundo, então achei muitas das coisas machistas e até mesmo preconceituosas. No entanto, a história vai chamando atenção, principalmente porque você fica querendo saber sobre o passado de Lúcia, suas multifacetas e o desenrolar da trama.
Recomendo ler? Sim, mas se você tem maturidade literária e gosta de descrições intermináveis, bem como de personagens emocionados. Se não tem paciência para essas coisas, melhor procurar outro livro, de preferência de outro autor!
Caso você vá parar de ler aqui, por causa do spoiler, não se esqueça de seguir a gente no Instagram (@caleidoscopio_literario) e deixar sua opinião nos comentários! É muito importante!
AVISO! A PARTIR DESTE PONTO CONTÉM SPOILER
Se você não gosta, não continue!
Agora começam os spoilers, se você está com pressa e não leu o aviso acima, estou te avisando de novo... A partir deste momento, teremos spoilers!
Bom, Paulo vai até a ceia na casa de Sá e encontra Lúcia, bem como mais algumas pessoas no local, sendo que não foi surpresa nenhuma que os protagonistas ficaram boa parte do tempo se “bicando”. Primeiro porque o homem é todo emocionado, cheio das palestrinhas e dos julgamentos, enquanto que a cortesã está com a língua afiada, banhada de sarcasmo e ironia, rebatendo os dizeres do personagem a todo momento.
Em dado momento, Lúcia foi recriar algumas das cenas dos quadros que estão na casa de Sá e arranca a roupa, dando um verdadeiro show. No entanto, Paulo não está acostumado com esse comportamento da cortesã então fica estressadinho e resolve “pegar um ar” do lado de fora, retirando-se da sala em que estavam, fazendo birra mesmo.
Algum tempo depois, Lúcia o segue e eles iniciam uma conversa um tanto quanto chata, que finaliza com a cortesã prometendo não fazer mais isso, de arrancar a roupa do nada, enquanto que ele chega à conclusão de que tem pena da garota, sim vocês leram certo... Ele tem PENA dela. É aí que a mulher começou a ficar um pouco enfadonha, para mim, pois assume um papel completamente submisso à Paulo.
Depois dessa conversa, os dois passam a noite juntos e somente retornam para casa de manhã. Paulo decide então reservar suas economias para viver bem durante dois anos, pagando as contas necessárias, já que não era rico, e o resto destina para gastar com Lúcia, mesmo já sabendo que a mulher não se importa com joias e brilhantes que ganha de seus amantes, inclusive nem gosta desse comportamento.
Ou seja, vamos ignorar o que a garota quer e fazer do meu jeito né? Completamente errado e o pior é que Lúcia acaba aceitando os “presentes”, confesso que eu estava esperando que ela jogasse as coisas na cara dele, mas também... Acho que eu estava querendo demais.
Após isso, nossos protagonistas se encontram e ficam fofinhos. No entanto, Paulo se depara com Sá algum tempo depois e este o adverte sobre Lúcia, falando a realidade do que pensa sobre a mulher, fazendo seu “papel de amigo”. Uma coisa que queria comentar com vocês é sobre esse personagem, que faz fofoca da vida de todo mundo e sempre tem um comentário desnecessário a ser feito, parece ser muito estranho e eu não sei se a amizade dele é sincera... Quando lerem, prestem atenção em Sá, o falsiano, como o apelidei durante a leitura!
Seguindo na história, Paulo, mesmo advertido por Sá, vai até Lúcia e a mulher o chama para morar com ela. Uma loucura? Sim, ainda mais se considerarmos o pouco tempo que eles se conhecem! Aí vemos que a cortesã assume, mais uma vez, o papel de submissa perante seu amante, o que é muito cansativo!
Os dois vivem juntos e bem durante um mês, harmoniosamente, sendo que Lúcia já não sai mais e nem o próprio Paulo mantém seus compromissos. No entanto, o homem precisa ir a uma festa e não pode levar sua amante consigo, indo sozinho ao local... E adivinhem quem ele encontra? Isso mesmo, o fofoqueiro mor: Sá!
O amigo conta várias coisas sobre Lúcia, insinuando que Paulo vive às custas dela e que é por causa das despesas com o homem que a cortesã deixou de fazer suas ostentações. Diante de tal informação, o nosso protagonista, que é emocionado e tira conclusões precipitadas, vai até a amante e decide ir embora da casa dela, querendo dar um fim ao caso que vivem.
Vocês acham que Paulo vai conseguir? E Lúcia, o que a fez entrar neste mundo da prostituição? O que há por trás da cortesã? Isso e muito mais vocês irão descobrir lendo o livro, já que não vou mais dar detalhes.
Como eu disse antes, essa não é uma leitura leve. A linguagem rebuscada e as descrições intermináveis tornam o ato de ler bem pesado e cansativo, ainda mais se você não tem o costume, que é o meu caso, de encarar uma obra assim! Não vou mentir, achei cansativo e tive que fazer uma meta para ler o livro, mesmo que ele seja bem pequeno!
Paulo, o nosso protagonista, é muito emocionado, tendo uma visão extremamente romântica e lírica dos fatos que o cercam. Além disso, Paulo narra os acontecimentos do ponto de vista dele, o que é um pouco chato, porque a visão que temos de Lúcia (e dos demais personagens) é sempre do modo como o narrador os vê, e homem tem pensamentos dúbios, machistas e tira conclusões precipitadas demais, induzindo o leitor a erro. Não raras vezes exagerou no modo como enxerga Lúcia, pois às vezes a via como anjo, outras como perdida e sem esperança. É sempre uma caixinha de surpresas, e particularmente, não gosto disso.
A leitura é legal e o livro é bom! Eu não gostei do final, obviamente, porque achei que Lúcia merecia um término marcante e realmente relevante, no entanto, para os termos da época em que foi escrito e das características do autor, acredito que tenha sido o melhor que pudesse ser feito mesmo, sonhar com mais seria ilusão.
Eu recomendo a leitura para quem gosta de romance exagerado, personagem principal emocionado, “redenção” e drama. Se você curte este tipo de livro, vai amar Lucíola... Só leia com um dicionário do lado, por causa das palavras difíceis e, caso veja que não está fluindo bem, é só fazer uma meta de leitura... A obra é pequena, se você ler 10/15 páginas por dia, em 10 dias vai terminar tudo!
Se você gostou dessa resenha, deixe um comentário com sua opinião (não custa nada)! Contem para nós se vocês também gostaram? Um ponto que não foi citado, se a resenha ajudou na leitura e essas coisas!
Compartilhe nas suas redes sociais a resenha, se você achou bacana, e não se esqueçam de nos seguir no insta (@caleidoscopio_literario) para mais resenhas e dicas!
Comentários
Postar um comentário