Memórias de um Sargento de Milícias

 Resenha por Iasmin Campos 

Autor:  Manuel Antônio de Almeida

Editora: ‎publicado originalmente em folhetins no Correio Mercantil do Rio de Janeiro, entre 1852 - 1853 anonimamente e depois formato livro, em 1854

Número de Páginas: ‎ 216



Sinopse

O livro conta uma história do "tempo do rei", isto é, de Dom João VI. É a história de Leonardo, filho de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, que se conheceram no navio que os trazia de Portugal ao Brasil. Chegando ao Rio de Janeiro, logo sentiram-se os efeitos do namoro a bordo - nasceu um robusto garoto que recebeu o nome do pai. Passado algum tempo e depois de muitas brigas, Maria foge com um capitão e regressa a Portugal. Leonardo deixa o filho na casa do padrinho, um barbeiro. O padrinho se afeiçoa ao menino, que, no entanto, é um grande bagunceiro e está sempre aprontando travessuras. O padrinho e a madrinha (também chamados de compadre e comadre) se preocupam com o seu futuro, mas o garoto não quer saber de estudar nem de trabalhar, crescendo como um verdadeiro vadio. Já rapaz, conhece a mulata Vidinha e apaixona-se por ela. Mas Vidinha tem outros pretendentes e, por ela, Leonardo acaba por meter-se em brigas e encrencas, passando a ser bem conhecido pelo major Vidigal, temido chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro. Chega a ser preso mas, por interferência da comadre, se torna cabo da guarda do major Vidigal, embora não tenha nenhuma inclinação para essa função; ao contrário, continua a fazer das suas e vive mais preso do que solto. Contando sempre com a proteção da comadre, que sabe de alguns segredos amorosos do major, Leonardo vai superando as dificuldades e alcança o posto de sargento de milícias. Faltava só a felicidade no amor e ela vem na figura de Luisinha, uma antiga paixão de Leonardo que a tinha perdido para outro, um tal de José Manuel, que veio a falecer. Luisinha, na verdade, nada sentia pelo marido e não sofreu com sua morte. Quando Leonardo foi dar-lhe os pêsames, os dois se sentiram novamente atraídos e pouco tempo depois casaram-se e foram felizes. E assim termina a história.

Fonte: https://www.amazon.com.br/Mem%C3%B3rias-Sargento-Mil%C3%ADcias-Antonio-Almeida/dp/8516096947


Resenha

Caleidoscópios, e aí, como estão? Vocês já sabem que estamos no mês dos clássicos. Então toda a quinta-feira traremos livros que fazem parte da nossa literatura e que muitos já leram em período escolar ou conhecem, pelo menos, o autor!

Falando nele... o de hoje é Manoel Antônio de Almeida, que fez parte da geração romântica brasileira junto com autores como José de Alencar e Bernardo Guimarães. Porém, o escritor é de obra única, já que somente lançou um livro, do qual falaremos nessa resenha.

Preciso, antes de começar o conteúdo, dizer que não sou formada em literatura, não sou professora e muito menos tenho conhecimento aprofundado das épocas literárias brasileiras. Então estou aqui como leitora e expondo minha opinião sobre a obra, bem como sei da importância desses livros e autores para a história do Brasil, mas não tenho sapiência suficiente para fazer uma resenha aprofundada.

Dito isso, vamos começar dizendo que esse livro se passa no Rio de Janeiro, época entre o reinado Dom João VI e depois quando seu filho virou príncipe regente. Inicia falando do romance entre duas pessoas, um meirinho chamado Leonardo-Pataca que nasceu em Portugal, depois se mudou para o Brasil e Maria da Hortaliça, uma quitandeira que morava em Lisboa e veio no mesmo navio que ele.

A forma de flerte naquela época era muito diferente da de hoje, pois Leonardo ficou encantado com a moça e para demonstrar isso deu um pisão com toda força no pé dela. Sim, vocês não leram errado, ainda digo que funcionou, porque depois eles ficaram juntos,  sendo que quando chegaram ao Brasil, já foram morar sob o mesmo teto e meses depois nasceu a criança.

O casal teve um menino que a princípio não sabemos o nome, só descobrimos que ele tem o mesmo nome do pai já quase no meio do livro. Mas para ficar mais dinâmico e como tem na sinopse acima, o nome da criança é Leonardo também.

Uma característica desse livro e já vou adiantar, é que os personagens principais não são referidos os nomes, então Leonardo, o filho, é chamado de menino boa parte do livro. Assim que nasceu, ele foi batizado e escolheram a parteira como madrinha, bem como o barbeiro como padrinho, mas não sabemos o nome de ambos. Então ao longo da história, são referidos como comadre e compadre...

A história pula para quando o menino tem sete anos e percebemos o quão inquieto, arteiro e desobediente ele é, pois passava a maior parte do tempo atormentado a vizinha, pegava o chapéu do pai e arrastava para o lado da casa. Também tem o lado teimoso do garoto que não obedecia nem os pais.

A família até então vivia bem, mas Leonardo-pataca começou a desconfiar de Maria, pois muitas vezes chegava do serviço e via algum homem na porta da sua casa, inclusive o sargento passava várias vezes por lá, olhando a residência. Teve também um colega de ofício seu que queria tratar de negócios com a esposa...

Um dia Leo decidiu chegar mais cedo em casa para pegar a mulher de surpresa e adivinhem o que ele viu? Assim que entrou na sala um homem pulou a janela e saiu correndo da residência. Nosso personagem se enfureceu demais, pegou a esposa e a espancou, Maria tentou se proteger e saiu correndo da residência para ir na casa do compadre pedir ajuda, mas o local estava fechado, então Leonardo alcançou a mulher e continuou a bater nela no meio da rua.

O menino viu toda a cena, não se importou muito, ainda encontrou os documentos que o pai tinha trazido do serviço e começou a rasgar um por um. Leonardo-pataca viu o que o garoto estava fazendo, deixou a esposa e foi mais enfurecido ainda atrás do filho, o pegou pela orelha e o rodou, arremessando-o pelo ar.

O menino saiu correndo e foi até a casa do padrinho para procurar por ajuda e encontrou o homem, o compadre viu o estado do afilhado e quis saber o que tinha acontecido. A criança só conseguiu apontar para a mãe que estava no meio da rua e chorando, então o moço foi atrás da comadre para entender o ocorrido.

Quando foi conversar com Maria, ela explicou tudo e ainda xingou o marido dizendo que ele era um péssimo meirinho, Leonardo-pataca ouviu os insultos da esposa, foi bater mais ainda nela e por pouco não acertou o compadre que ficou só olhando a situação sem saber o que fazer. Confesso que nessa parte eu fiquei bem aturdida, porque não tinha ninguém que ajudasse Maria e nem o barbeiro fez alguma coisa...

Enfim, o compadre foi conversar com Leonardo-pataca sobre o ocorrido e tentar acalmar o homem, pediu que Maria voltasse para casa e a mulher deixou o filho com o padrinho para que ele cuidasse da criança. Enquanto isso, Leo saiu de casa e foi espairecer para tentar se acalmar, chegou a conclusão que não queria deixar a esposa, foi incentivado pelo compadre a realmente não fazer isso e que ela estava arrependida.

No dia seguinte, Leonardo-pataca e o compadre voltaram a casa do primeiro para que ele pudesse conversar com a esposa, sabem o que eles encontraram? A casa estava vazia. Sim, Maria fugiu, foi embora com um capitão de navio na noite anterior e Leonardo ficou desolado, porque queria ficar com a esposa.

Então depois disso, Leonardo-pataca também foi embora, ambos os pais deixaram o menino com o padrinho e o pior, nem se importaram com o estado da criança. Como o compadre era também responsável, já que batizou o menino e aceitou a promessa que tinha feito a Maria de que qualquer que acontecesse ele iria cuidar do garoto, então ele agora é o responsável.

Temos aqui um problema, o padrinho criou um amor tão grande pelo menino a tal ponto que o cegou, pois o garoto poderia fazer o que quisesse que não era corrigido e ainda achava graça de tudo. Tanto que todos os vizinhos diziam que a criança era endiabrada e travessa, mas o homem achava ruim com todos e dizia que ele era calmo e tranquilo.

Então o padrinho pensando no futuro de Leonardo decidiu que ele iria agora ser clérigo, o homem cismou que a criança tinha jeito para ser padre e que iria torná-lo um. Deu um ultimato que as travessuras iriam acabar...

Quanto a comadre, ela soube semanas depois de todo o ocorrido com o afilhado e foi atrás do compadre, mais porque queria saber da fofoca do que realmente ajudar com alguma coisa. Assim que ela ficou sabendo do plano do garoto virar padre, não concordou, pois achou que a criança não tinha jeito para isso, que era melhor entrar na Conceição e aprender um ofício...

E a criança quanto a isso? Não gostou de nada e queria continuar fazendo suas travessuras, não obedecendo ninguém e importunando a vida das pessoas da cidade. Qual será o destino dele? O que será que aconteceu com o seu pai? O padrinho vai conseguir convencer o afilhado a ser padre? Ou será a madrinha?

Essas e outras perguntas eu vou responder na parte do spoiler, caso vocês não gostem, ai vão ter que ler o livro para descobrir!

Bom, esse livro é dividido em duas partes: Tomo I e Tomo II, mas ambas são continuação uma da outra. Além disso, um ponto é que o narrador é em terceira pessoa, então não parte da opinião de vista de nenhum personagem. Temos aqui o narrador onisciente intruso, ou seja, ele participa da história, intromete e comenta tudo, então é ele que dita o que vamos saber naquele momento e o que vai deixar para te contar mais a frente.

Para quem gosta de uma narrativa em que você tem um panorama muito amplo de tudo e ainda tem o narrador conversando, fazendo comentários como se fosse uma pessoa te contando uma fofoca, vai adorar esse livro. Não tive dificuldade em momento nenhum com a leitura, mas sugiro estarem com um dicionário do lado, pois tem palavras da linguagem culta ou muito usadas na época em que foi escrito.

Aqui também vemos a questão religiosa e as festas feitas naquela época, bem como a cultura do povo, vestimentas e os pensamentos. Sobre o final, o autor vai abrindo vários pontos ao longo do livro e realmente fecha, temos algumas reviravoltas e você realmente entende o porquê do título.

Eu super indico vocês lerem, realmente acho que a leitura é muito tranquila, sendo bem parecida aos livros escritos na época literária do autor. Temos uma escrita bem realista e conseguimos realmente entender o contexto social de tudo.

Caso você vá parar de ler aqui, por causa do spoiler, não se esqueça de seguir a gente no Instagram (@caleidoscopio_literario) e deixar sua opinião nos comentários! É muito importante!


A PARTIR DESSE PONTO TEM SPOILER:

Se você não gosta, não leia!


Seguirei respondendo as perguntas feitas acima, mas para isso eu darei spoilers! Primeiro vou dizer que o compadre é muito insistente e iludido com o afilhado.

Então o homem realmente insiste que o menino vai virar clérigo de qualquer jeito e que para isso ele precisa ser colocado na escola, pois precisa aprender a ler, escrever e que a criança tem que parar com as travessuras. O compadre coloca Leonardo na instituição de ensino e vocês realmente acreditam que deu certo? 

Poucos dias depois que foi colocado a aula, o menino aprontou e naquela época existia a educação por meio da palmatória, então Leonardo apanhou na escola. Porém o padrinho não poderia retirá-lo de lá, pois ele precisava ser padre, mas isso não o impediu de dar um jeito.

Leonardo, enganou o compadre e disse que poderia ir à escola sozinho, mas isso foi uma desculpa para poder matar aula, começou a frequentar a igreja e pegou amizade com o sacristão. Logo o garoto queria também ocupar esse posto, mas vocês já podem imaginar que não é por devoção, mas para aprontar.

Mudando de personagem, vamos saber agora o que aconteceu com Leonardo-pataca, que pouco depois de sair de casa se apaixonou por uma cigana, mas foi traído por ela. Como ele não se contentou e queria a todo custo ficar com a mulher, se submeteu a um senhor que faz feitiços e rituais em troca de fortuna. 

Então conforme ia pagando, Leonardo-pataca foi subindo o nível de rituais até chegar em um que iria ser feito dentro da casa do velho e com mais outras quatro pessoas. Porém na época, o Major Vidigal tinha poder de juiz, polícia, prender as pessoas e tudo era feito conforme os seus julgamento, então esse homem foi ao local do ritual, junto com a sua guarda e prendeu todo mundo.

Naquela época não existiam juízes, tribunais, julgamentos, nem nada parecido, então se o Vidigal julgasse que aquele ato era criminoso, levava a pessoa para a Casa da Sé e depois, se achasse viável, ela era transferida para a prisão.  Foi isso que aconteceu com o Leonardo e o pior, como era conhecido do Major, ficou muito mal falado.

Quem foi tirar Leonardo-pataca da prisão? A comadre, que ficou sabendo da história e foi falar com o tenente coronel, que depois descobrimos que é o pai do Leonardo. Esse senhor trabalhou por muitos anos para a coroa sendo um dos homens de confiança pelos serviços prestados, mas hoje não faz mais nada por causa da idade.

Aqui sabemos toda a história de Leonardo-pataca e do quanto ele foi o desgosto na vida do pai, que já gastou muito com ele em dívidas. Mas claro que o tenente foi libertar o filho e precisou conversar com um amigo que presta serviços diretos com a coroa para conseguir a liberdade de Leo.

Só que Leonardo não tem jeito, mal foi solto e já foi atrás de novo da Cigana bolando um plano para acabar com a festa de aniversário da mulher. Ele queria causar uma confusão grande e fazer com que Vidigal prendesse a todos. 

Os detalhes eu vou deixar vocês lerem, mas dessa história o que vocês precisam saber é que o amante da Cigana era o Padre. Sim, vocês não leram errado, ficamos sabendo isso antes da confusão, porque o Leonardo e o seu amigo sacristão, pegaram o clérigo frequentando a casa da mulher e fizeram um plano para humilhá-lo. Esses dois fizeram o padre perder o sermão da festa chegando atrasado e ainda falaram aos presentes que o erro foi do próprio homem, já que a cigana sabia do horário certo.

Pessoas, foi confusão atrás de confusão e percebemos que tal pai, tal filho, ambos adoram se colocar em situação complicadas e arrumar situações para prejudicar os outros. Aqui damos um salto na história, pois após essa confusão, o Leonardo foi expulso de ser sacristão pelo padre e voltou a aprontar por conta própria, já que não tinha mais um ofício a se seguir.

Aparece uma nova personagem D. Maria, uma senhora já idosa a qual o compadre começou a frequentar constantemente a casa em busca de conselhos. Pouco depois ela começou a ser responsável por uma sobrinha, Luizinha, que tinha ficado órfã.

Descobrimos que Leonardo começou a se apaixonar pela garota, ele já é um jovem rapaz agora e aparece o seu primeiro amor, mas ainda não sabe bem lidar com o que sente. Para piorar, D. Maria está arrumando um marido para Luzinha, pois ela já é velha e vai acabar deixando a menina sem um amparo, então aparece José Manuel, um homem bem mais velho e interessado na garota.

Só que Leonardo não pode deixar que a garota se case, pois está apaixonado por ela, mas ele não tem nenhum futuro, tomou gosto pela vida de ócio, não tem trabalho e a D. Maria não iria aceitar que ele desposasse Luizinha. Claro que o compadre iria ficar do lado do afilhado e fazer tudo que ele quisesse, mas será que vão conseguir? Será que Luizinha vai se casar com José? Ou vai ficar com Leonardo? Qual será o futuro do garoto e do seu pai? 

Agora vou deixar vocês descobrirem sozinhos, mas todas essas perguntas serão muito bem respondidas já que o nosso narrador nos mostra várias perspectivas e acaba fechando todos os pontos. Aqui temos um livro muito real, pois mostra bem a sociedade naquela época, não tem personagem perfeito e o autor faz questão de apontar que todos tem um lado bom e ruim, alguns tem mais um lado que o outro.

O livro aponta muito a vivência social, as dificuldades das pessoas e os preceitos que existiam naquela época. Além disso, tem a questão religiosa e como ela afeta a vida das pessoas e vai conectando tudo, interligando os personagens. Sem contar o narrador em terceira pessoa que mostra o panorama total da história e ainda conversa com você.

O final é bem surpreendente e um pouco já esperado, mas não é nada romantizado, é algo real, possível de acontecer. Também vemos a mudança no comportamento do personagem e as dificuldades que ele teve que passar. 

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