1984

 Resenha por Bianca Ramos

Título Original: 1984

Autor: George Orwell

Tradução: Adalgisa Campos da Silva

Editora Nova Fronteira, 2021 

Livro Físico, 336 páginas



Sinopse
“Winston Smith é um funcionário do Ministério da Verdade, órgão responsável por notícias, entretenimento, educação e belas-artes do Estado. Seu trabalho consiste em reescrever a história para satisfazer as demandas do Partido, que busca o poder em benefício próprio e persegue todos os que se atrevem a cometer os chamados “pensamentos-crime”. Um dia, porém, cansado daquela realidade, ele decide desafiar o sistema, mas o Grande Irmão está sempre de olho em tudo e em todos… 

Romance surpreendente, "1984" cria um mundo imaginário assustadoramente verossímil do início ao fim. Nesta distopia, uma das mais celebradas e influentes da literatura mundial, George Orwell nos apresenta presságios que podem estar mais perto da realidade de hoje do que gostaríamos. Esta edição conta com a tradução de Adalgisa Campos da Silva e o prefácio do advogado e escritor José Roberto de Castro Neves.”


Resenha

Olá, galera! Como vocês estão? Espero que todos estejam bem e se cuidando! Já tomaram a vacina por aí? Por aqui estamos todas vacinadas! #vivaoSUS

Vocês pediram e nós trouxemos mais um clássico da literatura mundial: 1984, um dos livros mais famosos de George Orwell e certamente o mais assustador de todos, e não, não temos aqui um livro de terror, não se preocupem! Estamos diante de uma distopia que dá calafrios de tão realista, mesmo que tenha sido publicada em 1949, pouco tempo antes da morte do autor. 

Antes de começarmos a falar sobre o livro, vou deixar aqui um aviso. Esta é uma resenha de opinião, isso significa que estou fazendo este escrito com base no que eu penso, nas minhas convicções pessoais e no meu conhecimento prévio sobre o assunto de guerras, regimes totalitários, ditaduras e política. Digo isso porque esta é uma obra estudada de forma acadêmica, o que não é o meu caso (apesar do livro conter algumas questões paralelas ao Direito) e nem o intuito desta postagem, ok? Vi alguns vídeos sobre o assunto, mas não sou expert! 

Neste livro temos a história de Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade que acredita estar vivendo no ano de 1984, já que a contagem de anos não é precisa. A Inglaterra do protagonista é diferente da qual estamos acostumados, isso porque estão todos vivendo em um regime totalitário, gerido pelo Grande Irmão (ou Big Brother), em que os membros do partido são vigiados 24 horas por dia, 07 dias por semana. Aterrorizante, né?

Essa vigilância constante é feita por um objeto chamado “teletela” que projeta propagandas, anúncios de notícias, músicas partidárias e afins, o tempo todo... Não tem como desligar o objeto! É como uma televisão, mas sem a opção de tirar da tomada e que observa tudo que você faz, porque ela recebe, em tempo real, tudo o que acontece. 

Além disso, existe a chamada Polícia do Pensamento. E sim, é isso mesmo que vocês estão achando... O Grande Irmão controla até o pensamento das pessoas, pois existe uma coisinha chamada Pensamento Crime, isto é, se você já pensa em se rebelar, se questiona ou demonstra isso de qualquer forma... É traidor e vai parar no Ministério do Amor, que na verdade, é um local de tortura e prisão. 

Uma coisa a ser dita: os nomes dos Ministérios são o contrário do que realmente representam. Por exemplo, o Ministério da Verdade produz mentiras, o Ministério do Amor é o local de tortura e de ódio, o Ministério da Riqueza, faz a festão da pobreza, e por aí vai... 

Começamos o livro com Winston dando indícios de que odeia o local em que está e a forma com as coisas estão, pois o personagem se encontra bem abatido e acomodado. Bebe gim constantemente, possui alguns problemas de saúde e não está em seu estado de ânimo mais glorioso, mas na verdade, percebemos ao longo da história que ninguém está! 

Winston, no entanto, faz uma coisa que ninguém pode fazer. Ele compra um diário, o que é veladamente proibido, e começa a despejar toda sua indignação e seus pensamentos no papel, acreditando que ninguém está vendo, pois o apartamento onde mora tem uma arquitetura diferente dos demais e possui um ponto cego, onde a teletela não capta suas imagens. 

Como eu já disse antes, Winston trabalha no Ministério da Verdade e a sua função no local é apagar da história ou adulterar os fatos pelo bem do Grande Irmão. Ele faz pessoas sumirem de documentos, polos da guerra mudarem de lado, apagando o passado e o reescrevendo, adulterando documentos e trocando informações, para que aquilo que o regime diz se torne verdade. 

Por exemplo, o mundo é dividido entre três grandes potências: a Eurásia, a Lestásia e a Oceania, sendo que elas estão em guerra há um bom tempo. Em um dado momento do livro, que não vou dizer qual é, a Oceania (onde fica a Inglaterra) estava em guerra com a Eurásia, mas durante um discurso, do nada, diz-se que a Oceania na verdade está guerreando com a Lestásia e sempre esteve assim... Deste modo, o trabalho de Winston e de muitos outros é alterar este fato dos documentos, jornais e afins, para que o passado entre em conformidade com o presente. 

Medo, né? Eu também fiquei em pânico, ainda mais se considerarmos o tanto de Fake News distorcendo fatos passados que temos na atualidade.

Bom, continuando falando sobre este mundo de 1984, temos que durante alguns períodos do dia os cidadãos têm que participar do chamado “Minutos de Ódio”, que é um momento em que todos se reúnem em frente a uma teletela e incitam todo seu ódio a Goldstein, um “rebelde” que se insurgiu contra o Grande Irmão e criou uma Irmandade. Este grupo apresenta uma oposição velada ao regime ditatorial do Big Brother, mas não vemos muitos avanços dele durante a leitura e algumas vezes dá pra pensar que realmente nem existe, e é só algo inventado pelo próprio sistema para gerar um inimigo comum entre todos. 

Diga-se de passagem, uma coisa que se repara em Winston é que ele está sempre com medo, sempre agoniado e todos ao seu redor também ficam um pouco assim. O livro apresenta todos os pensamentos do personagem principal, então acompanhamos em primeira mão os achismos dele, bem como suas opiniões, angústias e sentimentos... E mesmo apavorado com a ideia de ser pego, o protagonista continua escrevendo no diário, pois se considera um homem-morto, por causa dos pensamentos-crime que tem. 

Isso é um fato interessante, que chama atenção, pois Winston fica com medo a todo momento, mas ao mesmo tempo, não deixa de fazer as coisas porque sabe que será morto de um jeito ou de outro. Na verdade, o termo que ele usa é vaporizado, isto é, a pessoa simplesmente desaparece da história, como se nunca tivesse existido na vida. 

Bom, uma característica deste governo totalitário que tomou conta do mundo todo é o fato de que existem espiões por todos os lados além das teletelas, ou seja, você realmente não está seguro, não importa onde esteja. Não dá para confiar em ninguém, nem na própria família, já que as crianças são criadas e incentivadas a denunciar os próprios pais. 

Além disso, O Grande Irmão cria uma nova língua, chamada novilíngua, e institui uma coisa chamada “duplipensar” que é uma forma de manipular o pensamento das pessoas. Basicamente é dizer duas ideias conflitantes e fazer o indivíduo aceitar as duas. Parece um pouco confuso, e é mesmo, mas a leitura ajuda a esclarecer bem essa questão, principalmente na terceira parte do livro (que você terá que ler para saber). 

Bom, a Inglaterra está dividida em classes sociais, assim como o mundo atualmente o está. Nós temos os proletas, a parte pobre e manipulável, a massa de manobra da sociedade, e os membros do partido, que atuam nos Ministérios e são vigiados 24h por dia.  Além disso, dentro do próprio partido, existe uma subdivisão, com uns membros do primeiro escalão, chamado de partido interno, que tem mais privilégios e regalias, e os membros mais pobres, que fazem o serviço bruto e não tem quase nada de riqueza. 

A maioria, como vocês podem imaginar, é proleta, mas eles não sentem tanto o rigor do totalitarismo, pois são manipulados o tempo todo pelo partido. Quem realmente está nesse meio termo entre saber de mais e saber de menos são os funcionários dos Ministérios, aos quais são impostos o celibato, a prostituição é proibida, há racionamento de comida, desencorajam qualquer tipo de afeto, a não ser aquele relacionado a perpetuar a espécie (e mesmo assim, nada de prazer), e ainda é proibido o divórcio, sendo que os casamentos tem que ser aprovados pelo refime. 

Vemos em Winston, ao caminhar pela leitura, um medo constante, mas ao mesmo tempo, uma curiosidade de saber se o mundo sempre foi assim, se a história que aprendeu é realmente a verdadeira ou se foi algo construído pelo Grande Irmão. Por isso, ele começa a se interessar por coisas antigas, por pequenos fragmentos do passado, começando a conversar com pessoas mais velhas e, inclusive, retornando à loja em que comprou o diário, que possui vários objetos do passado. 

Além disso, o nosso personagem principal está sendo seguido! Sim, tem uma mulher que está de olho nele por onde vai, sempre atenta aos seus movimentos... O que vocês acham que ela é? Seria um membro da polícia do pensamento disfarçada? Alguma rebelde? Ou outra coisa? Isso vocês vão descobrir lendo o livro ou continuando até a parte dos spoilers!

O livro é muito bom, muito mesmo! Eu fiquei chocada com como a escrita é boa e chama bastante atenção, no entanto, a leitura é extremamente pesada. Confesso para vocês que demorei muito para ler porque estava ficando angustiada! Era uma dualidade, eu queria ler para entender mais, mas ao mesmo tempo, ficava extremamente cansada e com um pouco de medo do que poderia acontecer. 

Isso porque a obra não é feliz, não te dá esperança de nada e possui muitas divagações do personagem principal. Dica importante: se você está em um momento mais pesado, mais complicado da sua vida, adie um pouco a leitura. Pegue este livro quando você estiver bem, mentalmente falando. 

Notem que eu disse “adie” a leitura e não “não leia”, porque acredito que este é um livro que todos no mundo deveriam ler. É um alerta sobre qual tipo de sociedade não queremos e o perigo do governo totalitário que tudo vê e tudo comanda! É uma crítica pesada aos regimes ditatoriais, à ausência de liberdade, seja de ir e vir como de expressão, e a própria ideia de justiça, igualdade, fraternidade, dignidade da pessoa humana, entre outros. 

Leia o livro, mas o faça em seu tempo! Vale a pena!

Caso você vá parar de ler aqui, por causa do spoiler, não se esqueça de seguir a gente no Instagram (@caleidoscopio_literario) e deixar sua opinião nos comentários! É muito importante! 


AVISO! A PARTIR DESTE PONTO CONTÉM SPOILER

Se você não gosta, não continue!


Agora começam os spoilers, se você está com pressa e não leu o aviso acima, estou te avisando de novo... A partir deste momento, teremos spoilers!

Bom, terminamos a primeira parte com a informação de que existe uma mulher perseguindo Winston! Obviamente que nosso protagonista fica um pouco “desesperado” com isso, mas continua seguindo sua vida como se nada estivesse acontecendo, até que um dia, em um corredor do Ministério da Verdade, o personagem encontra sua perseguidora.

Após ela cair e Winston ir ajudá-la, a moça lhe entrega um bilhete... Dizendo que o ama! Pois é, galera, acabou que a perseguição era somente porque estava amando o nosso protagonista. Confesso que eu estava desconfiando que ela trabalhava para o Ministério do Amor, sendo um membro da polícia do pensamento e estava realmente espionando o nosso protagonista.

Assim, eles montam um esquema de guerra para conseguirem se falar e mesmo assim, trata-se de pequenos momentos juntos no refeitório do Ministério da Verdade ou em uma multidão. Não dá para os dois conversarem ou realmente se conhecerem direito, por isso a mulher monta uma estratégia para conseguir algumas horas “longe” do olhar do Grande Irmão. 

Após dar voltas e mais voltas, Winston consegue chegar ao local marcado para encontrar a garota, mais afastado e no meio do mato, e lá descobrimos que a perseguidora dele na verdade de chama Júlia, é bem mais nova e é uma “rebelde” contra o sistema, pois odeia o partido e as privações do regime. Depois de conhecermos melhor a personagem, vemos que na verdade ela só vai contra as ideias, mas não se incomoda em questionar muito e ter um pensamento crítico. 

Júlia quebra as regras para benefício próprio e não para o bem de todos. Ou seja, é uma rebelde um pouco egoísta que não quer mudar o sistema, mas sim melhorar seu modo de viver, e isso ela faz quebrando as regras. Não a vemos interessada em romper com o Grande Irmão, em grandes revoluções, a sua ideia de rebeldia é mais imediatista e não a longo prazo. 

Ela e Winston iniciam um relacionamento escondido, mesmo isso sendo completamente proibido pelo partido. Notoriamente,  não vai dar certo, né? 

O relacionamento deles, em um primeiro momento, é repleto de encontros esporádicos e pequenos momentos, no entanto, conseguimos ver como Winston fica empolgado com aquela paixão em sua vida. Assim, resolve retornar à loja de antiguidades, na qual adquiriu o caderno que usa como diário, e aluga do dono o quarto de cima, que não possui uma teletela e pode dar um pouco de privacidade a ele e Júlia. 

Aos poucos, o relacionamento de ambos evolui e percebemos que Winston começa a criticar bastante o sistema em que eles estão presos, ao mesmo tempo que busca mais informações sobre a Irmandade, pois quer ajudar a lutar contra o Grande Irmão. Como eu disse antes, Júlia  não se preocupa com isso, pois é mais imediatista e está bem somente quebrando as regras, mas acaba indo junto com o amante atrás de tais informações. 

É assim que O’Brien entra nesta história. Winston já desconfiava que o colega de Ministério estava envolvido com a Irmandade, por causa dos olhares compartilhados durante os Minutos de Ódio e teve a sua confirmação quando o funcionário o abordou, dando indícios para que ele fosse até a sua casa pegar um novo dicionário sobre a novilíngua. 

Winston entendeu o que estava sendo dito entre as entrelinhas e foi descobrindo que O’Brien na verdade trabalhava para a Irmandade. Assim, o nosso protagonista e Júlia acabam entrando no movimento rebelde... E o resto vocês descobrem lendo o livro! 

Uma coisa a se atentar é... Ninguém é o que parece e este livro não é sobre uma história de amor e muito menos tem um final feliz! Leiam sem romantizar e ao mesmo tempo não se iludam. 

Bom, eu gostei muito da leitura, como disse antes, acredito que este seja um livro que deva ser lido mais de uma vez e sempre buscando entender o contexto em que foi escrito. Estamos falando de um cenário pós-guerra, em um mundo instável e que estava tomado por regimes totalitários, como na Rússia. 

Assim, temos que avaliar que esta é uma distopia de como poderia ser o mundo caso o totalitarismo vencesse em 1945. Mas também não deixa de ser um alerta para os dias atuais, já que a obra continua extremamente contemporânea e crítica, te fazendo questionar tudo ao seu redor. 

Como mencionei anteriormente, este livro é muito pesado, muito meeeeesmo! A leitura dele pode até ser rápida (no meu caso não foi por não estar em um bom momento), mas eu te garanto que não é pela expectativa do que vai acontecer e muito menos pela esperança de que as coisas vão melhorar, principalmente a terceira parte do livro! 

O autor não te dá indícios de que as coisas ficarão melhores e que o mundo se verá livre do Grande Irmão, bem como dos demais regimes totalitários da Lestásia e da Eurásia. Não romantizem a leitura, por favor, pelo contrário, leiam com o senso crítico ativado no modo máximo. 

Recomendo ler, mas não se estiver triste ou um pouco para baixo. Recupere-se primeiro e depois devore 1984! Vale muito a pena realizar a  leitura e mais ainda, compensa tentar compreender o contexto histórico em que o livro foi escrito e também dar uma olhada nas críticas sobre ele. Esta é uma obra muito explorada no meio acadêmico, porque faz muitos paralelos com questões reais e atuais! 

Espero que todos gostem da leitura e saiam dela assustados, pois o objetivo do livro não é de dar esperança de dias melhores e sim nos fazer ver que, por mais que tenha seus inúmeros problemas, a democracia ainda é o melhor caminho!

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MATERIAL DE APOIO:

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