Mulheres que Inspiram

 Resenha por Iasmin Campos 

Autores:  Natalia Bemfeito, Taoana Padilha, Aline Ramos, Júlia Rena, Rafael Arrais, Yara Morais (Ilustrador), Igor Teo (Prefácio)

Editora: ‎ Textos para Reflexão (7 fevereiro 2021)

Número de Páginas: ‎ 48

Sinopse

A história foi injusta com as mulheres. Dentro da cultura patriarcal, quantas delas tiveram suas trajetórias ocultadas pela narrativa dominante? Filósofas, poetisas, cientistas, guerreiras, monjas, revolucionárias, artistas... enfim, mulheres. Esta obra pode ser vista como uma tentativa de recuperar essas histórias.

Vocês lerão sobre algumas mulheres do Brasil e do mundo tendo suas vidas contadas por outras mulheres-autoras (com a exceção de um único autor honradamente convidado por nossas autoras para também contribuir com este livro).

As autoras são escritoras talentosas. Como realizadoras deste projeto, cada uma se expressou livremente para fazer desta obra uma verdadeira arte. Cada capítulo tem o estilo de quem o escreveu. Cada texto é também sobre uma mulher que inspira as nossas autoras. Autoras e personagens se misturam, assim, criando um texto único, escrito entre quem nos conta e quem tem sua história contada.

Sabemos que Freud, o criador da psicanálise, se perguntou em determinado momento de sua obra: afinal, o que querem as mulheres? Este é o mito da feminilidade como um lugar de mistério, desconhecimento e ocultismo. Muitas coisas já foram ditas sobre as mulheres. Muitas coisas que não são certas. Portanto, antes de dizer qualquer coisa, deixemos de falar por elas, e simplesmente escutemos o que elas têm a nos dizer.

FONTE:https://www.amazon.com.br/Mulheres-que-inspiram-Rafael-Arrais-ebook/dp/B08W752D7Z

Resenha

Olá, caleidoscópios! Como vocês pediram, vim trazer esse livro que venceu a votação das nossas próximas leituras! Se não sabem do que estamos falando, fizemos uma enquete lá no nosso instagram pedindo para escolher uma das opções para resenha e Mulheres que Inspiram foi um dos escolhidos. Se não nos segue lá no instagram, já corre lá, é @caleidoscopio_literario, tem muito conteúdo legal!

Bom, vamos começar! Primeiro eu preciso dizer que esse livro tem o intuito de autores escreverem sobre mulheres que, de alguma forma, foram importantes ao longo da história e que os inspiram, mas muitas delas foram esquecidas ou tiveram sua trajetória apagada pela sociedade. Isso porque sabemos que vivemos em um mundo onde os feitos femininos muitas vezes não são valorizados e foram destruídos pelo machismo ao longo da história da humanidade.

Por isso, cada um deles escreveu de forma livre e do jeito que achou melhor retratar cada uma das homenageadas. Por isso, pode ser em forma de biografia, contar somente os feitos, exemplificar com trechos da obra ou só descrever porque é inspiradora.

 O que eu quero dizer com isso é que cada capítulo é independente e escrito de uma forma totalmente diferente, não tem bem um padrão. Conforme você vai avançando na leitura essa distinção é muito nítida e confesso que foi algo que me estranhou muito, pois é sério,  esse fator da escrita é gritante.

Ao total foram escolhidas oito personalidades para se falar e os autores são, em sua maioria, do gênero feminino, com exceção de um escritor que é homem. Dentro das figuras históricas descritas no livro temos psiquiatras, filósofas, religiosas, autoras de material científico ou literário, médicas, entre outras. Então foi escolhido mulheres  inspiradoras bem distintas e com histórias que variam muito no tempo, sendo algumas que viveram na Grécia Antiga enquanto outras na época da Segunda Guerra Mundial.

Assim, dando agora minha opinião sobre a obra.... Bom eu comprei esse livro em uma promoção da Amazon e que foi de graça! Não tinha lido sinopse e nem nada dele, assim não sabia do que se tratava e muito menos o que esperar.

A princípio eu achei que fossem várias bibliografias ou contando as obras de cada mulher, mas não é, porque tem capítulos que realmente são dessa forma, mas em outros o autor só cita que gostou, porém não fala exatamente o motivo. Assim, confesso que não foi um livro que me chamou a atenção ou realmente me fez querer conhecer as homenageadas.

Isso não quer dizer que não foram importantes ou que a obra dessas mulheres não são inspiradoras, mas a forma que foi tratada cada uma delas, não me instigou a aprofundar e tentar entender melhor quem são. Em alguns capítulos, inclusive, eu até me perguntei o porquê da escolha daquela pessoa, pois o autor não exemplificou direito o motivo da inspiração.

Enfim, para mim, esse livro não cumpriu o papel de mostrar o porque essas mulheres são inspiradoras de uma forma que me fez querer saber mais de cada uma. Achei a forma de escrita muito confusa, pois essa ideia de ser livre para escrever do jeito que quisesse acabou deixando o livro extremamente inconstante e eu começava a ler em um ritmo de descrição e quando mudava o capítulo era outro estilo.

 Mas isso é somente a minha opinião, talvez vocês gostem desse tipo de conteúdo e escrita, ainda mais se consomem conteúdos de biografias e relatos de homenagens a outras pessoas. Por ser um livro muito pequeno e com capítulos independentes, a leitura também é muito rapidinha, eu o terminei em questão de horas!

Mesmo que seja um livro do qual eu não tenha gostado, indico lerem e tomarem as próprias conclusões, pois pode ser que gostem muito, ainda mais porque muitas mulheres citadas são extremamente importantes para a história e tiveram sim as suas trajetórias esquecidas, merecendo ser relembradas e resgatadas. Mais abaixo vou contar um pouquinho de quem são e o porque foram colocadas como inspiradoras, mas darei spoilers. 

Caso você vá parar de ler aqui, por causa do spoiler, não se esqueça de seguir a gente no Instagram (@caleidoscopio_literario) e deixar sua opinião nos comentários! É muito importante!

A PARTIR DESSE PONTO TEM SPOILER:

Se você não gosta, não leia!

Seguindo com a resenha eu vou dar uns spoilers sobre cada uma das mulheres citadas ao longo do livro e pouquinho do que foi abordado!

Vou tentar descrever brevemente cada uma, focando nos pontos principais, e recomendo que se quiserem saber mais sobre alguma, é só ler o livro ou procurar mais a fundo sobre elas. Algumas delas possuem uma obra bem extensa e muitos acontecimentos de vida, mas tentarei ser breve. Vamos falar em ordem!

Nossa primeira autora se chama Safo, uma poetisa grega que tinha o seu trabalho voltado a escrever versos no formato de liras e tratava muito sobre a questão da sexualidade feminina. Mas vocês já podem imaginar que por ser mulher, toda a sua obra foi praticamente destruída e restaram somente alguns desses escritos.

Ela foi extremamente importante, pois abriu espaço para que outras pudessem se expressar por meio das artes, sentimentos e escritas, já nessa época levantou a importância da liberdade da mulher. Infelizmente os temas aos quais abordava infelizmente são muito discutidos atualmente e parece que mesmo com as mudanças sociais ainda voltamos neles, como por exemplo, machismo, exclusão social e racismo. 

A próxima a ser relatada é Hipática de Alexandria, que era uma filósofa de família nobre e possuía inúmeros conhecimentos, citada por muitos outros, como Sócrates Escolástico. Essa mulher criou um círculo de intelectuais e dava aulas sobre filosofia, matemática e astronomia a muitos deles, bem como foi a responsável por formar muitos dos filósofos bastante conhecidos ao longo da história.

Infelizmente, sua obra não foi valorizada, ainda mais por ser mulher, e acabou sendo considerada uma bruxa então foi morta pela igreja. Mesmo assim, ainda é citada e tem seus escritos misturados a de outros filósofos que têm seus ensinamentos como bastante importantes.

Vamos falar de Rabia Basri, uma mulher nascida no Iraque e extremamente religiosa, seu nome significa a quarta Basri, ou seja, a filha de posição quatro da família. Devido à pobreza extrema, foi vendida como escrava por seus pais e libertada pela família que tinha sido comprada pelo patrão, por ter medo dela. 

Rabia fazia todas as noites suas orações e foi relatado, pelo homem que a escravizou, que ela emanava uma luz durante os momentos que estava em contato com Allah, sendo esse o motivo da sua liberdade. Desde muito nova buscava o amor puro, além do certo ou errado, ou do campo das ideias, ela amava Allah simplesmente por amar, sem medo de ir para o inferno ou buscando o paraíso. 

Essa religiosa morreu com pouco mais de oitenta anos sem nenhuma posse, pois acreditava que não precisava de mais nada além de Allah. Mesmo tendo toda essa devoção e reconhecida por muitos outros religiosos, teve seu funeral muito simples e sem nenhuma homenagem que fosse justa a sua trajetória, pois era mulher.

Vamos falar de Dandara dos Palmares, a esposa de Zumbi dos Palmares, que passou por escravidão, estupro, acoite e ameaça de morte, ainda teve sua história apagada pelo mero fato de ser mulher. Porém, lutou ativamente na questão acerca da liberdade dos negros e na política de organização do Quilombo dos Palmares, ainda mais por ter chegado no local quando ainda era criança.

Essa personagem pegou em armas para defender o quilombo e se casou com Zumbi, ao qual vocês já ouviram falar nas aulas de história, tendo três filhos com ele. Sua morte justificou infelizmente tudo que acreditava, pois preferia ser morta em vez de retornar à escravidão, por isso se jogou de um penhasco para não ser capturada e retornar à escravidão. 

Nossa próxima é Sabina Spielrein, uma judia de família abastada com um pai extremamente rígido e depressivo que ou estava aplicando castigos severos ou se trancava no quarto e ficava semanas sem falar com ninguém. A mãe uma dentista que largou a profissão para cuidar dos cinco filhos e nossa protagonista que desde pequena foi criada sem noção nenhuma de educação sexual.

Quando jovem, Sabina foi diagnosticada com histeria grave e repetia muitos dos comportamentos do pai, que foi colocado como o responsável pela doença psiquiatra da filha, bem como o falecimento da irmã mais nova por uma doença e do avô anos de causas naturais algum tempo antes. Além disso, foi a partir da doença dela que se criou o termo esquizofrenia, mas a doença foi controlada e revertida após um ano do tratamento.

Essa cura possibilitou que ela conseguisse passar na faculdade de medicina e virar uma psiquiatra, trabalhando ao lado do médico que acompanhou seu quadro psíquico e com quem teve caso. Sabina tem uma obra extremamente vasta de artigos na área de psiquiatria tanto adulta quanto infantil e sugiro lerem o livro para saber mais da obra acadêmica dela ao longo dos anos, que é brilhante...

Bom, ela se casou e teve duas filhas, mas viveu na época do governo de Stalin na Russia e, vocês sabem, na época do holocausto e morte em massa de judeus. Foi em um desses extermínios que nossa brilhante psicanalista, musicista e médica foi assassinada, bem como as suas duas filhas, sendo uma delas ainda um bebê. 

Seguimos para a Mãe Menininha de Gantuá, uma baiana, descendente de nigerianos por parte materna e responsável por popularizar o terreiro de Gantuá. Uma mulher muito forte que venceu o preconceito da época e as proibições para o funcionamento do terreiro, com muita luta.

Foi a partir dela que a religião do Candomblé ganhou mais conhecimento e popularidade, bem como possibilitou no Brasil a aceitação governamental das religiões de matriz africana. Com isso, muito conhecida e respeitada, virou mãe de muitas figuras conhecidas artisticamente como Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Jorge Amado, que a procuravam seus conselhos até o fim da sua vida com 92 anos.

Vamos falar de Nise da Silveira, uma alagoana e psiquiatra que foi presa no governo de Getúlio Vargas por possuir livros comunistas para estudo. Ela foi a pioneira no tratamento de pacientes psiquiátricos de forma humanizada e mudou toda a linha de tratamento das clínicas psiquiátricas da época.

Vocês já devem ter ouvido falar que os pacientes com transtornos psíquicos levavam choques e eram torturados como forma de tratamento para a cura de seus males. Só que Nise nunca concordou com tais atos e propôs que as artes eram o melhor caminho para isso e criou a Fundação de Terapia Ocupacional.

Além disso, o Museu do Inconsciente do Rio de Janeiro foi criado para exibir as obras dos pacientes dessa médica, bem como foi ela que usou animais como “coterapeutas” . Temos também a criação da Casa das Palmeiras para tratamento dos pacientes das antigas clínicas psiquiátricas. Então essa mulher mudou a forma de tratar os doentes que deve ser feita com amor, dignidade e humanidade instaurando uma nova forma de ver a “loucura”. 

Para quem tiver interesse, existe um filme muito bom, protagonizado pela Glória Pires, que conta a história de Nise. Vale a pena assistir e se emocionar!

Por fim, falaremos de Rose Marie Muraro uma autora vinda de uma das famílias mais ricas do Brasil, sendo uma escritora feminista que decidiu seguir a sua vida sem contar com o dinheiro dos familiares. Ela fala de sexualidade feminina no contexto brasileiro, dos anos de perseguição das mulheres e tudo sob uma visão coletiva.

Então, pessoas, deu para vocês terem noção de cada pessoa que é citada no livro e perceber a distinção de trajetórias delas. Foram abordadas por contexto profissional, religioso ou de vida, mas todas foram ofuscadas pela sociedade machista e suas histórias esquecidas ao longo dos anos.

Como eu disse na primeira parte, a escrita do livro não tem uma consistência e cada capítulo é de uma forma totalmente diferente do outro. Então tem uns com muitos exemplos e trechos da obra das mulheres, já outros só o ponto de vista do autor.

Mesmo percebendo a importância delas dentro do contexto em que foram apresentadas, acredito que a forma como foram retratadas não me fez sentir inspirada a conhecer melhor sobre suas trajetórias. Mas eu indico demais que vocês leiam e tenham as suas próprias conclusões sobre o livro e cada um dos relatos, pois podem amar e realmente se inspirar pela história dessas mulheres. 

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