A Revolução dos Bichos
Resenha por Bianca Ramos
Título Original: Animal Farm
Autora: George Orwell
Tradução: Adalgisa Campos da Silva
Editora Nova Fronteira, 2021
Livro Físico, 120 páginas
Sinopse
“Após anos sendo maltratados e sobrecarregados de trabalho, um grupo de animais decide tomar o controle da fazenda onde vive. Com idealismo inflamado e slogans de efeito, eles planejam criar um paraíso em que prevalecerão o progresso, a justiça e a igualdade. No entanto, a revolução toma um rumo diferente do esperado. Assim, arma-se o palco para uma das fábulas satíricas mais contundentes já escritas. George Orwell traz em "A revolução dos bichos" uma crítica mordaz sobre como o poder é capaz de corromper até mesmo a mais nobre das causas. Uma história atemporal, devastadora e mais atual do que nunca. Esta edição foi traduzida por Adalgisa Campos da Silva e prefaciada pela advogada e comentarista política Gabriela Prioli.”
Resenha
Olá, caleidoscópios! Como vocês estão? Espero que todos estejam bem e se cuidando!
Hoje vamos trazer um livro diferente dos que já apareceram por aqui, porque chegou a vez de “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell. Confesso que estava com um pouco de medo de escrever essa resenha, afinal, estamos falando de um clássico da literatura mundial e que possui críticas sociais bem pesadas!
Sendo assim, vamos fazer alguns combinados muito importantes antes, ok? Esta é uma resenha de opinião, até porque não sou especialista em política, regimes de extrema esquerda, em história mundial e nem nada disso. Sou formada em Direito com especialização em Direito Processual Penal, então... Não tenho formação específica para aprofundar muito em alguns assuntos.
Isso significa que estou escrevendo algo baseado na minha opinião, meus parcos conhecimentos de história e em um vídeo maravilhoso que eu vi da Tatiana Feltrin (o link está no final para quem quiser ver também). Deste modo, não esperem uma resenha crítica profunda ou até mesmo algo mais acadêmico, porque eu até poderia fazer alguns paralelos com o Direito, mas este não é o intuito do blog!
Bom, o livro retrata a vida em uma fazenda e foi escrito por George Orwell no período da Guerra Civil Espanhola, onde permaneceu no local por um tempo, como jornalista. O autor, que era de esquerda, ficou chocado com o que viu e redigiu esta obra, em forma de fábula e permeada por alegorias, então, obviamente, trata-se de uma crítica aos regimes totalitários de esquerda que surgiram naquela época, mesmo que o escritor tivesse um posicionamento político socialista. Só aí já percebemos a importância deste escrito, pois trata-se de um apontamento feito por alguém que acreditava no socialismo!
Então, este local se chama “Fazenda do Solar”, sendo comandada por um humano, o Sr. Jones, e os bichos vivem em uma condição de trabalho extremo, com poucos benefícios, mas não tem muita “consciência de classe”, portanto, aceitam os abusos do fazendeiro. No entanto, um dia, Major, um porco ancião, reúne todos os animais no celeiro e lhes conta que sonhou com sua morte e com um mundo mais igualitário, onde eles vivem em harmonia e igualdade, que não há exploração do trabalho e nem precariedade, além de cantar para eles uma canção chamada “Bichos da Inglaterra”, que é repetida várias vezes durante a história.
De acordo com meus estudos, Major seria a representação de Karl Marx e Lenin, que foram responsáveis por sistematizar a teoria socialista, criando conceitos importantes e até hoje muito estudados. O porco, um animal considerado mais inteligente pelos bichos, foi o responsável também por apresentar os animais a este “mundo ideal”, com todos iguais, sem exploração, com cooperação e harmonia.
No entanto, Major morre antes de ver seu sonho se concretizar e os bichos continuam naquela situação degradante... Até que uma coisa acontece: Sr. Jones, que é alcoólatra, bebeu demais e esqueceu-se de seus animais, fazendo com que eles se rebelassem e surgisse a verdadeira revolução.
Os bichos expulsam o Sr. Jones e sua esposa da fazenda, tomando-a para si e passando a administrá-la. No início, temos somente os animais, sem classe alguma, todos considerados iguais e ninguém melhor do que o outro, sendo que o único inimigo era o ser humano.
Todos se comprometem a trabalhar em prol do bem da fazenda, planos são feitos e alguns “mandamentos” são criados, surgindo assim o “animalismo”. A questão toda é: será que eles vão conseguir manter a situação como está? Você pode ler a história e também continuar a resenha para saber mais, na parte de spoilers!
Bom, o livro é maravilhoso! Dá para realizar a leitura bem rápido e a linguagem é muito tranquila, sendo que até mesmo crianças conseguem entender sem problema algum! Obviamente que uma pessoa de 8 anos não lerá com o mesmo senso crítico de alguém mais velho (que se espera que tenha um pingo de consciência), mas ela conseguirá compreender a história, sem dúvidas!
Não foi a primeira vez que eu li este livro, confesso, mas a experiência de reler não foi nem um pouco chata, pelo contrário, cheguei à conclusão de que esta é uma obra que deve ser lida mais uma vez, de preferência em situações diferentes da sua vida, para que todos os detalhes sejam absorvidos. Inclusive, pretendo estudar um pouco mais sobre a Revolução Russa, já que a história é uma fábula inspirada neste marco histórico, e depois vou ler novamente para ver se a minha visão mudará.
Trata-se de um livro extremamente crítico e que realmente muda uma “chavinha” no seu cérebro. Faz uma crítica pesada ao sistema totalitarista de esquerda, mas ao meu ver, podemos considerá-lo como uma crítica a qualquer regime totalitário, que suprima liberdades individuais e que cause medo. Compensa muito ler, esta é com certeza uma das obras que todo mundo deveria realizar a leitura, pelo menos uma vez na vida. Ah, e de quebra o livro é bem pequeno, não dá nem 2h30 de leitura!
Caso você vá parar de ler aqui, por causa do spoiler, não se esqueça de seguir a gente no Instagram (@caleidoscopio_literario) e deixar sua opinião nos comentários! É muito importante!
AVISO! A PARTIR DESTE PONTO CONTÉM SPOILER
Se você não gosta, não continue!
Agora começam os spoilers, se você está com pressa e não leu o aviso acima, estou te avisando de novo... A partir deste momento, teremos spoilers!
Bom, a Revolução dos Bichos ocorreu e os humanos foram expulsos, porém... O que aconteceria a partir daquele momento?
De início, os bichos resolveram que todos seriam iguais, sem distinção alguma, e que os animais deixariam os porcos, como são os mais inteligentes, no comando das coisas, mas tudo seria decidido em conjunto, nem uma vontade se sobressaindo sob a do outro. Eles também aprovaram 7 mandamentos, que seria o guia de todos naqueles tempos.
Olhem os mandamentos:
“1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas ou tenha asas é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal fará uso de bebida alcóolica.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais” (pg. 21)
Muito bacana, né? Mas a questão é... A lei está escrita, mas será cumprida?
Bom, depois da criação dos mandamentos e dos animais começarem a sua “nova vida” após a revolução, uma pequena rixa entre dois porcos, os animais sábios, surge. De um lado temos Bola de Neve, que representa Trotsky, e do outro há Napoleão, a representação de Stalin, ambos são duas personalidades muito importantes da Revolução Russa que, como eu já disse, inspirou a escrita deste livro.
Os dois porcos não conseguem concordar em nada e vivem debatendo um com o outro, de lados opostos. Há também outro porco que chama muita atenção, que é Amém, ele é um orador nato e convence todos os animais de suas ideias, não importa o quão absurdas sejam.
Temos também outros personagens muito bons, como Guerreiro, um cavalo forte e comprometido, que apoia a revolução e trabalha muito. Há Flor, uma égua que também se dedica bastante ao labor e é até sensata, mas não é questionadora. Somos apresentados também a gata, que sempre some oportunamente, a Benjamin, um burro que nunca opina em nada e é pessimista, bem como existem os cães, vacas, galinhas, entre outros.
A fazenda, que agora passa a se chamar “Fazenda dos Bichos”, começa a prosperar. Mas vocês não acham que Sr. Jones ia ser expulso e continuar tranquilo, né? Nãaaaaao, meus amigos, ele ressurge das cinzas a fim de reaver sua propriedade.
É aí que temos a “Batalha do Curral”, em que os animais defendem a fazenda com unhas e dentes dos humanos, alguns até mesmo morrendo. O Sr. Jones, obviamente, sai e aceita que perdeu sua propriedade, aprendendo que o lugar não é mais dele e que os animais são uma unidade agora, mas os ânimos no local ficam exaltados, os bichos começam a produzir e buscar meios de fazer com que a pequena sociedade deles, sem classes, prosperasse.
A disputa entre Bola de Neve e Napoleão também fica cada vez mais acirrada, o primeiro com planos visionários, construindo escolas para que os animais pudessem aprender a ler e em moinhos de vento. Enquanto isso, o segundo está pensando no trabalho dos animais e, de modo muito suspeito, pega uma cria de cachorros para educar, ele mesmo.
Este moinho de vento, que Bola de Neve quer fazer, aquece ainda mais os ânimos entre os dois porcos, pois Napoleão é contra. A ideia do primeiro é construí-lo para gerar energia elétrica, sendo que faz um projeto completo de tudo, mesmo não sabendo onde vai conseguir matéria prima para tirar tal ideia do papel.
Assim, em uma das audiências em que todos os bichos estão presentes, discutindo sobre a construção do moinho de vento, Napoleão dá o bote! Acaba que lança os cachorros que criou em cima de Bola de Neve, que se retira prontamente da fazenda dos bichos, fugindo, enquanto que Napoleão deixa claro que agora está no comando e que as coisas serão do jeito que ele quer.
É neste momento que Napoleão começa a mostrar suas faces de ditador e a manipular os bichos, com a ajuda de Amém, fazendo com que os bichos cedam às suas ordens sem questionar. Institui desfiles, se promove como o “salvador de todos” e começa a demonizar Bola de Neve, tornando-o inimigo comum de todos e instaurando o medo para justificar suas ações.
No que será que acabará neste pequeno “reinado” de Napoleão? Os bichos farão uma nova revolução? Vou deixar vocês lerem e descobrirem.
O livro, como eu disse antes, é muito bom! Faz uma crítica social muito pesada, mostrando que uma ideia de liberdade pode também se tornar algo autoritário, do mesmo jeito que os oprimidos, quando ganham poder, podem começar a oprimir, mudando o governo, mas não o modo de governar.
Os porcos, ao longo do livro, vão alterando as regras em benefício próprio, mas sem mudá-las em sua essência, bem como manipulam os outros animais para que façam o que eles querem. Acaba que os bichos saem do governo do Sr. Jones, mas continuam presos da mesma forma.
É uma crítica aos governos totalitários de esquerda (e consigo pensar também nas ditaduras da direita), mas que se formos ler e olhar ao nosso redor, é extremamente atual. Você consegue identificar traços dos porcos em vários governantes pelo mundo, inclusive no Brasil, e a pensar em qual animal você se parece...
Somos como Guerreiro, que trabalhamos sem questionar e nos esforçamos sem realmente pensar, ou como Flor, que tem ciência do que acontece, mas não se insurge? O pior, paremos com Benjamin, o burro, que sabe muito bem o que está ocorrendo, reclama o tempo todo e simplesmente deixa as coisas como estão? Somos semelhantes aos cachorros, que se aliam aos porcos? Como ovelhas, que repetem tudo sem pensar? Ou parecemos com os porcos que, quando no poder, continuam com as mesmas práticas de antes, nada fazendo para mudar o sistema?
O livro é para te fazer questionar, para colocar o dedo na ferida, para mostrar que tipo de sociedade não queremos e nos atentarmos aos detalhes. Napoleão não dá um golpe, ele vai construindo suas manipulações ao longo da história e quando assustamos... Eis um ditador.
Leiam esta obra, se apaixonem, mas façam isso com senso crítico, analise a sua volta os sinais e perceba o quanto ainda temos uma liberdade frágil! Lembrando, é claro, que o livro foi publicado em 1945, olhem quanto tempo passou, mas as questões apontadas continuam as mesmas... Estamos evoluindo mesmo?
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MATERIAL DE APOIO:
https://www.youtube.com/watch?v=HuTVhDOBkr4&t=102s
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